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Cara ou Coroa

Qual é a cédula brasileira mais bonita já lançada?

Felipe Branco Cruz

12/12/2017 08h41


Para mim é a nota da baiana de CR$ 50 mil. E você, o que acha?

Uma das principais consequências das diversas crises econômicas pelas quais o Brasil já passou foi o uso de várias moedas diferentes. Desde que o Brasil conquistou a sua independência de Portugal, já tivemos réis, cruzeiro, cruzeiro novo, cruzeiro (segunda vez), cruzado, cruzado novo, cruzeiro (terceira vez), cruzeiro real e, finalmente, o real.

Ao contrário de países como Reino Unido e Estados Unidos, onde as moedas são as mesmas há centenas de anos, no Brasil nós tivemos que nos acostumar com essas mudanças.

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A vantagem, para quem gosta de numismática, é a incrível quantidade de modelos de cédulas e moedas que circularam por aqui. Algumas por apenas alguns meses. Muitas delas são feias e outras são verdadeiras obras de arte.

Pensando nisso, decidi escolher a cédula mais bonita de todas aquelas já colocadas em circulação no Brasil e, na minha opinião, é a de 50 mil cruzeiros reais com a efígie da baiana, a última nota lançada antes do Plano Real ser posto em ação.

No final do texto, eu elegi meu top 10. Nos comentários, me diga se você concorda!

O Banco Central do Brasil já emitiu quase
70 modelos de cédulas diferentes desde 1942

A nota mais bonita foi também uma das que menos tempo ficou oficialmente em circulação: cinco meses e 15 dias, entre 30/03/1994 a 15/09/1994. O real entrou em circulação em 1° de julho, ou seja, a nota da baiana circulou soberana por apenas três meses, depois continuou no mercado apenas para troca, até que o real fosse completamente implantado.

Vale lembrar que esta não foi a única nota com valor de face de 50 mil cruzeiros. Houve outra, com a efígie do historiador e folclorista Câmara Cascudo, que foi reaproveitada pelo governo com um novo valor e um carimbo de 50 cruzeiros reais.

Por que ela é a mais bonita?

A começar pela imagem lindamente ilustrada de uma baiana sorrindo. Depois, me atrai muito a cor da cédula, um púrpura intenso, nunca antes utilizado nas moedas brasileiras.

À esquerda da baiana estão os mais importantes balangandãs utilizados pelos escravos da Bahia. Tem a romã e o cacho de uvas (fecundidade), a figa de madeira e os dentes de animais (proteção), o caju (abundância) e o peixe, o cordeiro e as pombas do Espírito Santo (que são elementos do sincretismo das religiões africanas com o catolicismo).

figa, aliás, é repetida na lateral direita, no anverso e no reverso, como marca d'água, numa clara alusão às crenças e superstições brasileiras para espantar os maus olhados.

No reverso, há uma cena da baiana, trajada com requinte, de frente para o seu clássico tabuleiro preparando o acarajé. Ao fundo, é possível ver a Igreja do Bonfim, em Salvador, cenário de uma das mais famosas festas do sincretismo religioso brasileiro: a lavagem das escadarias do Bonfim. Detalhe: a imagem está na vertical, estilo que também foi adotado no primeiro modelo do real, lançado naquele mesmo ano.

A nota é assinada pelo Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que depois seria eleito presidente. Quem também assinou a nota foi Pedro Malan, na época presidente do Banco Central.

O que dava para comprar com ela?

Como a cédula foi posta em circulação na época em que o real surgiu, podemos convertê-la sem medo de errar. O valor de CR$ 50.000 era equivalente a R$ 18,18, já que a taxa de conversão era de 2.750, ou seja, US$ 1,00 = R$ 1,00 = CR$ 2750,00. Parece pouco, mas, naquele ano, R$ 18,18 valia muito dinheiro. Seria o equivalente a R$ 95 hoje, segundo a inflação acumulada de 1994 a 2017 (medida pelo IPCA).

O jeito mais fácil de pensar em quanto valeria a nota atualmente é esta: quem tinha CR$ 50 mil trocou esse valor por R$ 18, que, na época, dava para comprar mais ou menos a mesma coisa que compramos hoje com R$ 95. Basta lembrar que, em 1994, uma cerveja custava R$ 1 e um pãozinho, R$ 0,10. Atualmente, as cervejas custam entre R$ 5 e R$ 10 e o pãozinho não sai por menos de R$ 1.

Meu top 10:

1. CR$ 50.000 (1994)
Cinquenta mil cruzeiros reais

2. NCz$ 500 (entre 1990 e 1994)
Quinhentos cruzados novos e 500 cruzeiros

Acho essa cédula linda e, por pouco, não ganhou o primeiro lugar da minha lista. A efígie é do naturalista Augusto Ruschi, que estudou espécies da Mata Atlântica e ficou conhecido como "cientista dos beija-flores", mas o que mais me atrai nela é a combinação de cores e as belas alegorias da fauna e flora brasileira, com destaque para as orquídeas. Depois, ela ganhou um carimbo e passou a valer 500 cruzeiros. Ela me lembra a cédula de 5.000 pesos colombianos, que também é muito bonita. Veja abaixo as duas.

Cédula de 5.000 pesos colombianos

3. Cr$ 1.000 (entre 1990 e 1994)
Mil cruzeiros

Eu nem acho o anverso desta cédula tão bonito assim, com a efígie do Marechal Cândido Rondon. O que me atrai nela é o reverso, com a belíssima representação de um casal de índios carajás e, claro, por ter inspirado a capa do álbum "Roots", do Sepultura.

Capa do álbum "Roots", do Sepultura (1996)

4. NCz$ 100 (1989 a 1992)
Cem cruzados novos e 100 cruzeiros

Uma das raras vezes em que uma mulher foi representada nas cédulas brasileiras. O anverso traz a efígie da escritora Cecília Meireles com alguns versos manuscritos ao fundo. O reverso é lúdico, representando o universo infantil e suas fantasias no momento da aprendizagem. Poético, não? A cédula foi reaproveitada com um carimbo em 1992 e passou a valer 100 cruzeiros.

5. Cr$ 500.000 (1993 a 1994)
Quinhentos mil cruzeiros e 500 cruzeiros reais

O escritor Mário de Andrade foi homenageado na cédula de cruzeiro com um desenho inspirado no autorretrato "Sombra Minha", que aparece com o último verso do poema "Eu sou trezentos…". O reverso mostra o escritor ladeado por crianças e o icônico edifício Martinelli, em São Paulo. A cédula foi reaproveitada anos depois na mudança de plano econômico e ganhou um carimbo de 500 cruzeiros reais.

6. Cz$ 1.000 (1987 a 1990)
Mil cruzados e um cruzado novo

Como deu para perceber, eu gosto muito das cédulas que homenagearam nossos escritores mais importantes. Nesta, a efígie é de Machado de Assis com o emblema da Academia Brasileira de Letras. O reverso traz uma bela ilustração da rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro, de 1905. Assim como as outras cédulas, ela também foi reaproveitada com um carimbo e passou a valor um cruzado novo.

7. NCz$ 50 (1989 a 1992)
Cinquenta cruzados novos e 50 cruzeiros

Mais uma cédula com a efígie de um escritor e também mais uma reaproveitada com um carimbo (50 cruzeiros). Gosto muito dela porque tem a imagem do poeta Carlos Drummond de Andrade no anverso e, no reverso, os versos de "Canção Amiga". Veja só que privilégio era naquela época poder ter na carteira, sempre por perto, a genialidade de Drumond. No vídeo abaixo, Milton Nascimento interpreta os versos de "Canção Amiga".

8. Cr$ 100.000 (1985 a 1990)
Cem mil cruzeiros e 100 cruzados

Juscelino Kubitscheck, fundador de Brasília, só foi ser homenageado em nossas cédulas depois de 1985, quando a ditadura militar já estava nos estertores. A nota faz alusão aos grandes feitos do presidente, como a industrialização do Brasil e a construção de Brasília. A cédula depois passou a valer 100 cruzados.

9. Cz$ 5.000 (1988 a 1990)
Cinco mil cruzados e 5 cruzados novos

Gosto desta cédula porque ela homenageia um dos maiores artistas do Brasil, Cândido Portinari. O anverso mostra a efígie do pintor ao lado do painel "Tiradentes". No reverso, vemos Portinari em ação desenhando o painel "Baianas", além de elementos do painel "Paz". A cédula também circulou com o valor de 5 cruzados novos.

10. Cz$ 500 (1986 a 1990)
Quinhentos cruzados

Gosto desta cédula de 500 cruzados com a efígie do maestro Heitor Villa-Lobos por causa de várias coisas. A cor dela é muito bonita, há uma representação de vitórias-régias ao seu lado. No reverso, o maestro aparece em ação regendo uma orquestra, tendo ao fundo uma floresta, que sempre serviu de inspiração para as suas composições.

BÔNUS: CR$ 10.000 (não circulou)
Dez mil cruzeiros reais

Resolvi fazer esse bônus para uma cédula planejada para circular em 1994, mas que não chegou a ser lançada. Ela seguiu a mesma linha da nota da baiana e do gaúcho (série de cédulas em homenagem aos brasileiros), só que figura seria a rendeira. A coloração marrom dela é a mesma das nossas notas atuais de R$ 50. Acho a cédula linda porque traz uma rendeira com uma face cheia de rugas e, portanto, muito expressiva. O reverso, na vertical, mostra o trabalho das rendeiras com uma delas fumando um cachimbo.

Concorda comigo? Acha outra cédula brasileira ainda mais bonita?
Me diga nos comentários.


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Sobre o Autor

Felipe Branco Cruz coleciona moedas e curiosidades. É jornalista com mais de 10 anos de experiência, com passagem pelos principais veículos de comunicação do país. Atualmente é repórter de entretenimento do UOL, onde escreve sobre cultura pop, música, cinema e comportamento.

Sobre o Blog

Cara ou Coroa é o blog de numismática do UOL. Por aqui você encontra reportagens e curiosidades sobre as cédulas e moedas do Brasil e do mundo.

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