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Você sabe o que é numismática?

Felipe Branco Cruz

16/11/2018 11h40

O colecionador Bruno Pellizzari (foto: Joel Silva/Folhapress)

Numismática! Eita palavra difícil de dizer, mas seu significado representa o hobby de milhões de pessoas ao redor do mundo: o colecionismo de cédulas e moedas. Para explicar como tudo isso surgiu, abro espaço aqui no blog para o artigo do colega numismata Bruno Pellizzari, diretor da Sociedade Numismática Brasileira.

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Você sabe o que é numismática?

Por Bruno Pellizzari*

Numismática é a ciência que tem por objeto de estudo as moedas, papel-moeda e medalhas, desde o seu aparecimento até os dias de hoje. Permite o estudo da economia, história das escritas, dos algarismos, da geografia, da mitologia, da fauna, da flora, da heráldica [estudo de brasões], das religiões, da política, da arte, das guerras, dos esportes, da astronomia e muito mais. Numismata é a pessoa que estuda e coleciona moedas, cédulas e medalhas.

A moeda foi inventada no século 7 a.C. pelos lídios, um povo que habitava uma região na Ásia, onde fica a atual Turquia. Nessa época surgiram as primeiras manifestações que se assemelhavam às moedas, da forma como as conhecemos. Inicialmente, utilizaram o eletro (uma mistura natural de ouro e prata encontrada nos rios da região) e, posteriormente, o ouro e prata já separados. Acredita-se que a utilização desses metais esteja ligada aos antigos costumes religiosos. Sacerdotes e estudiosos da astronomia acreditavam numa estreita ligação mágica entre o ouro e o Sol, a prata e a Lua. Ressalta-se que moedas desse período foram encontradas por arqueólogos nas fundações do templo da deusa Ártemis, na antiga cidade de Éfeso, na Turquia.

Janus e o navioAs moedas eram feitas uma a uma por trabalhadores bem fortes. Primeiro, um pequeno disco de metal era aquecido e colocado entre uma base e um cunho (uma espécie de carimbo); depois, recebia um forte impacto com a aplicação do desenho – formatos bem pequenos e arredondados com uma marca ou emblema identificavam o emissor ou seu reino em um dos lados. Posteriormente, as moedas passaram a receber desenhos nos dois lados.

Por volta do século 5 a.C., a técnica de cunhagem atingiu o mais alto grau de perfeição. Os artistas gregos passaram a se superar e criaram as mais belas moedas de todos os tempos (se considerarmos que, nessa época, as lentes de aumento não haviam sido inventadas, podemos supor que os grandes mestres perdiam sua capacidade de visão rapidamente). Os artistas utilizavam diversas técnicas para desenvolver as suas criações, e uma delas era a de utilizar gotas d'água para ampliar precariamente a imagem do desenho.

Arqueóloga exibe moedas douradas do século 7 (fim do Período Bizantino) escavadas em uma ruína perto das muralhas da antiga Jerusalém, em Israel (imagem: Menahem Kahana/AFP)

A produção e utilização das moedas ocorreu de forma muito rápida e se espalhou por todos os povos, que adotaram um padrão comum, facilitando de forma definitiva o comércio no mundo antigo. As primeiras oficinas monetárias foram instaladas próximas ou nas dependências dos templos. Logo, a moeda passou a ter uma função secundária: a propaganda. A maioria das moedas cunhadas propagava as virtudes dos seus governantes, suas produções, deuses, suas vitórias e suas virtudes.

No Brasil, as moedas trazidas pelos portugueses não tinham circulação efetiva, uma vez que o sistema usual era o escambo. Os índios forneciam o pau-brasil e alimentos, em troca recebiam dos estrangeiros ferramentas, utensílios e pequenos objetos de uso doméstico.

Arqueólogo exibe moeda de bronze romana antiga achada em escavação sob museu de Oviedo, na Espanha (imagem: J.L. Cereijido/EFE)

Por mais de 200 anos circularam no território brasileiro moedas cunhadas em Portugal e as hispano-americanas, de prata, provenientes das colônias espanholas na América. Em 1694, Pedro 2º, rei de Portugal, criou na Bahia a primeira Casa da Moeda do Brasil. O dinheiro brasileiro denominava-se réis. Com a descoberta do ouro no século 18, a Casa da Moeda passou a funcionar em outras capitanias, como a do Rio de Janeiro e a das Minas Gerais.

Em 1808, D. João 6º criou o Banco do Brasil: primeiro banco da América do Sul e o quarto do mundo. Em 1810, foram emitidos os primeiros bilhetes do banco, precursores do papel-moeda atual. De 1942 para cá, nosso padrão monetário mudou várias vezes: cruzeiro (1942-1967), cruzeiro novo (1967-1970), cruzeiro (1970-1986), cruzado (1986-1989), cruzado novo (1989-1990), cruzeiro (1990-1993), cruzeiro real (1993-1994) e, finalmente, o real, a partir de 1994 até os dias atuais.

A numismática é uma ciência multidisciplinar que agrega e transmite informações de grande complexidade. Por meio das moedas, o mundo conheceu lendas e histórias muito interessantes, como a fundação de Roma pelos gêmeos Rômulo e Remo, amamentados por uma loba; o famoso rei gaulês que deu muito trabalho a Júlio César e que hoje se transformou no herói das histórias em quadrinhos conhecido como Asterix; a imagem do rosto de Cleópatra; as Cruzadas; as Olimpíadas e muito mais.

*Bruno Pellizzari é numismata e cursa Direito no Centro Universitário FMU | FIAM-FAAM. Atualmente, é diretor-administrativo da Sociedade Numismática Brasileira, mais antiga entidade numismática do Brasil, fundada em 1924, e a maior da América Latina. Frequentemente realiza palestras sobre numismática, além de publicar artigos sobre o tema.

Referência bibliográfica: apostila "Projeto difusão cultural: a SNB nas escolas", editada e publicada pela Sociedade Numismática Brasileira


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Sobre o Autor

Felipe Branco Cruz coleciona moedas e curiosidades. É jornalista com mais de 10 anos de experiência, com passagem pelos principais veículos de comunicação do país. Atualmente é repórter de entretenimento do UOL, onde escreve sobre cultura pop, música, cinema e comportamento.

Sobre o Blog

Cara ou Coroa é o blog de numismática do UOL. Por aqui você encontra reportagens e curiosidades sobre as cédulas e moedas do Brasil e do mundo.

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