IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Cara ou Coroa

Nota de 100 mil bolívares sem zeros oculta gravidade da crise na Venezuela

Felipe Branco Cruz

07/03/2018 09h22

Cédula de 100 mil bolívares da Venezuela

Em novembro de 2017, o Banco Central da Venezuela colocou em circulação a nova cédula de 100.000 bolívares. O fato foi bastante noticiado porque, pela primeira vez na história do país, foi emitida uma cédula com valor tão alto.

Um detalhe passou despercebido pela imprensa internacional, mas não pelos venezuelanos. A nota é a única do país que não contém todos os zeros em numerais (veja acima).

Nela, aparece apenas o número 100. O valor total "Cien Mil Bolívares" aparece escrito por extenso na segunda linha. Para piorar, o desenho, o tamanho e a cor da nota são muito semelhantes aos da de 100 (veja abaixo).

Ou seja, por causa das semelhanças, é preciso ficar muito atento para não trocar uma pela outra que tem um valor mil vezes menor.

Leia também:

Cédula de 100 bolívares da Venezuela

Talvez esta confusão nunca ocorra, já que as notas de 100 estão valendo tão pouco que quase ninguém as usa mais. Mesmo assim, ambas continuam em circulação. Na cotação atual, 100 bolívares equivale a menos de um centavo de real e 100.000 bolívares não vale mais do que R$ 10.

Uma das explicações especuladas por blogs oposicionistas da Venezuela é a de que o país está aproveitando o estoque de papel-moeda para fazer as mais altas, tanto que o mesmo desenho se repete nas cédulas equivalentes de outros valores.

Além disso, a Casa da Moeda do país não estaria dando conta de produzir dinheiro com desenhos e formatos diferentes na velocidade que a inflação exige. Para piorar, com medo de calotes, gráficas estrangeiras estariam se recusando a aceitar pedidos caso o pagamento não seja feito antecipadamente.

Manobra para camuflar hiperinflação

Um post publicado em um outro blog diz que a ocultação dos três zeros é, simplesmente, mais uma manobra do governo venezuelano para tentar camuflar a hiperinflação.

Oficialmente, estão em circulação 13 cédulas diferentes, com os valores de 2, 5, 10, 20, 50, 100, 500, 1.000, 2.000, 5.000, 10.000, 20.000 e 100.000 (veja todas abaixo). Além disso, o país não lançou a nota intermediária de 50.000 (o que ajudaria no troco), pulando direto para a de 100 mil.

Recentemente, por causa da hiperinflação, os comerciantes estavam pesando as notas na balança em vez de contá-las. Outro uso encontrado para as cédulas do país é o artesanato. Como não valem nada, artistas usam o papel para fazer arte e vendê-las mais caras do que o seu valor de face.

A BBC Brasil publicou também uma reportagem mostrando que a mesma quantidade de dinheiro usada para comprar um apartamento, hoje só paga um cafezinho.

Nas redes sociais, muitos venezuelanos ainda fizeram chacota da notícia do lançamento da nota de 100 mil, já que muitos bancos estavam proibidos de liberar valores acima de 50.000 por pessoa. E, na atual inflação, 100.000 bolívares só serve para comprar um desodorante, como mostra a foto do professor venezuelano Tito Rodriguez, publicada no Twitter.

Um exemplo claro da hiperinflação é o comparativo abaixo. Em 2012, era possível comprar um carro com 150 mil bolívares. Cinco anos depois, o mesmo valor só dava para pagar dois frangos congelados. No texto da foto abaixo, o autor ainda faz graça com o socialismo do século 21: "Não digam que o governo não é equitativo. Já igualou o preço de um carro com o de dois frangos".

Veja todas as cédulas em circulação na Venezuela:


Siga o blog nas redes sociais e não perca nenhuma atualização:

Sobre o Autor

Felipe Branco Cruz coleciona moedas e curiosidades. É jornalista com mais de 10 anos de experiência, com passagem pelos principais veículos de comunicação do país. Atualmente é repórter de entretenimento do UOL, onde escreve sobre cultura pop, música, cinema e comportamento.

Sobre o Blog

Cara ou Coroa é o blog de numismática do UOL. Por aqui você encontra reportagens e curiosidades sobre as cédulas e moedas do Brasil e do mundo.

Cara ou Coroa