Quando o Brasil emitiu uma cédula com poemas de Carlos Drummond de Andrade

O manuscrito acima reproduz um trecho de "Prece de um Mineiro no Rio"
Entre março de 1989 e setembro de 1992, os brasileiros carregaram na carteira a íntegra do poema "Canção Amiga", composto pelo mineiro de Itabira e um dos maiores escritores do país, Carlos Drummond de Andrade.
Os versos estavam estampados na cédula de 50 cruzados novos, rebatizada de cruzeiro em abril de 1990.
Ela trazia no anverso (frente da nota) a efígie do escritor e um trecho manuscrito do poema "Prece de um Mineiro no Rio":
Desprendido de imagens que se rompem
a um capricho dos deuses, tu regressas
ao que, fora do tempo, é tempo infindo,
no secreto semblante da verdade.
Leia também:
- Não quer ficar só nas figurinhas? Times da Copa nas notas de zero euro
- Entenda as moedas de dólar e saiba por que elas não têm número
- Conheça o dólar da Antártida, o fictício dinheiro do continente gelado
Mas era no reverso (parte de trás) onde estava impressa a íntegra do poema "Canção Amiga", que reproduzo no final deste post.
Outros dois escritores brasileiros —Cecília Meireles (100 cruzados novos) e Machado de Assis (1000 cruzados)– também já tiveram trechos de suas obras reproduzidas nas cédulas do país.
Mas foi só Carlos Drummond de Andrade, no entanto, que teve a honra de ter um poema na íntegra.
Em dezembro do ano passado, eu elegi as cédulas brasileiras mais bonitas (na minha opinião, é claro) e coloquei a nota do Carlos Drummond em 8º lugar. Coincidentemente, as cédulas da Cecília Meireles e do Machado de Assis também entraram na lista, respectivamente em 4º e em 6º lugar.
Machado e Cecília
No caso de Machado de Assis, tratava-se de um trecho do capítulo O Aposentado, da obra "Esaú e Jacó".
Viverei com o Catete, o Largo do Machado, a Praia de Botafogo e a do Flamengo, não falo das pessoas que lá moram, mas das ruas, das casas, dos chafarizes e das lojas. Lá os meus pés andam por si. Há ali coisas petrificadas e pessoas imortais.

O manuscrito acima reproduz um trecho do capítulo O Aposentado, da obra "Esaú e Jacó"
A cédula em homenagem a escritora Cecília Meireles trazia um trecho do poema "Cânticos".
Sê o que o ouvido nunca esquece.
Repete-te para sempre.
Em todos os corações.
Em todos os mundos.

Manuscrito acima reproduz um trecho do poema "Cânticos"
Milton Nascimento, conterrâneo de Drummond, homenageou o escritor com uma bela interpretação ao vivo da "Canção Amiga".
Assista abaixo:

Reverso da cédula de 50 cruzados novos tem um poema de Drummond na íntegra
"Canção Amiga"
Carlos Drummond de Andrade
Eu preparo uma canção
Em que minha mãe se reconheça
Todas as mães se reconheçam
E que fale como dois olhosCaminho por uma rua
Que passa em muitos países
Se não me veem, eu vejo
E saúdo velhos amigosEu distribuo um segredo
Como quem ama ou sorri
No jeito mais natural
Dois carinhos se procuramMinha vida, nossas vidas
Formam um só diamante
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belasEu preparo uma canção
Que faça acordar os homens
E adormecer as crianças.
Siga o blog nas redes sociais e não perca nenhuma atualização:
Seja o primeiro a comentar
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.